martes, 27 de septiembre de 2011

Quinta Parte

II. Conciliação positiva da ordem e do progresso
42. De acordo com este sentimento, cada vez mais desenvolvido, da igual insuficiência social, que de ora
em diante oferecem o espírito teológico e o metafísico, únicos que até aqui ativamente disputaram o
império, deve a razão pública achar-se implicitamente disposta a acolher hoje o espírito positivo como a
única base possível de verdadeira resolução da profunda anarquia intelectual e moral que sobretudo
caracteriza a grande crise moderna. A escola positiva, que ficara ainda estranha a tais questões,
preparou-se gradualmente para resolvê-las, constituindo, tanto quanto possível, durante a luta
revolucionária dos três últimos séculos, o verdadeiro estado normal de todas as categorias mais simples
de nossas especulações reais. Fortalecida por tais antecedentes científicos e lógicos, isenta, além disso,
das diversas aberrações contemporâneas, apresenta-se hoje como tendo enfim adquirido a inteira
generalidade filosófica que até aqui lhe faltava; desde então ousa empreender, por sua vez, a solução,
ainda intacta, do grande problema, transportando convenientemente para os estudos finais a mesma
regeneração que sucessivamente já operou nos diversos estudos preliminares.
43. Não se pode, à. primeira vista, desconhecer a aptidão espontânea de semelhante filosofia para
estabelecer, de modo direto, a conciliação fundamental, ainda tão vãmente procurada, entre as exigências
simultâneas da ordem e do progresso, pois lhe basta, para tal, estender até os fenômenos sociais uma
tendência plenamente conforme à sua natureza, e que ela tornou hoje muito familiar em todos os outros
casos essenciais. Em qualquer assunto o espírito positivo conduz sempre a estabelecer uma exata
harmonia elementar entre as idéias de existência e as de movimento, donde resulta mais especialmente,
para com os corpos vivos, a correlação permanente das idéias de organização e de vida, e, em seguida,
por uma última especialização peculiar ao organismo social, a solidariedade contínua das idéias de ordem
com as de progresso. Para a nova filosofia, a ordem constitui sempre a condição fundamental do
progresso; e, reciprocamente, o progresso é o objetivo necessário da ordem: como na mecânica animal,
são mutuamente indispensáveis o equilíbrio e a progressão, um como fundamento e a outra como
destino.
44. Considerado, em seguida, especialmente quanto à ordem, o espírito positivo apresenta-lhe hoje, em
sua extensão social, fortes garantias diretas, não só científicas mas também lógicas, que poderão logo ser
julgadas muito superiores às vãs pretensões de uma teologia retrógrada, que, desde vários séculos,

degenerou cada vez mais em elemento ativo de discórdias, individuais ou nacionais, e tornou-se incapaz
de conter daqui por diante as divagações subversivas dos seus próprios adeptos. Atacando a desordem
atual na sua verdadeira fonte, necessariamente mental, o espírito positivo constitui, tão profundamente
quanto possível, a harmonia lógica, regenerando primeiro os métodos, depois as doutrinas, por uma
tríplice conversão simultânea da natureza das questões dominantes, da maneira de tratá-las e das
condições preliminares da sua elaboração. De um lado, com efeito, ele demonstra que as principais
dificuldades sociais não são hoje essencialmente políticas, mas sobretudo morais, de sorte que sua
solução possível depende realmente muito mais das opiniões e dos costumes do que das instituições; o
que tende a extinguir uma atividade perturbadora, transformando a agitação política em movimento
filosófico. Sob o segundo aspecto ele encara sempre o estado presente como um resultado necessário do
conjunto da evolução anterior, de modo a fazer constantemente prevalecer a apreciação racional do
passado no exame atual dos negócios humanos; o que afasta logo as tendências puramente críticas,
incompatíveis com toda sã concepção histórica. Enfim, em lugar de deixar a ciência social no vago e
estéril insulamento em que ainda a colocam a Teologia e a Metafísica, ele a liga irrevogavelmente a todas
as outras ciências fundamentais, que constituem gradualmente, em relação a este estudo final, outros
tantos preâmbulos indispensáveis, onde a nossa inteligência adquire ao mesmo tempo os hábitos e as
noções sem as quais não podem ser utilmente tratadas as mais eminentes especulações positivas. Esta
circunstância já institui uma verdadeira disciplina mental, própria a melhorar de modo radical tais
discussões, desde então racionalmente interditas a grande número de entendimentos mal organizados ou
mal preparados. Estas grandes garantias lógicas são, aliás, em seguida plenamente confirmadas e
desenvolvidas pela apreciação científica propriamente dita, que, em relação aos fenômenos sociais assim
como a todos os outros, representa sempre nossa ordem artificial como devendo consistir sobretudo no
simples prolongamento judicioso, primeiro espontâneo, depois sistemático, da ordem natural que resulta,
em cada caso, do conjunto das leis reais, cuja ação efetiva é ordinariamente modificável por nossa
criteriosa intervenção, entre limites determinados, tanto mais distantes entre si quanto de ordem mais
elevada são os fenômenos. O sentimento elementar da ordem é, em uma palavra, naturalmente
inseparável de todas as especulações positivas, constantemente dirigidas para o descobrimento dos meios
de ligação entre observações cujo principal valor resulta da sua sistematização.
45. O mesmo se dá, e ainda mais evidentemente, quanto ao progresso, que, apesar das vás pretensões
ontológicas, acha hoje, no conjunto dos estudos científicos, sua mais incontestável manifestação. Em
virtude de sua natureza absoluta e por conseguinte essencialmente imóvel, a Metafísica e a Teologia não
poderiam comportar, com pouca diferença uma da outra, um verdadeiro progresso, isto é, uma verdadeira
progressão contínua para determinado fim. Suas transformações históricas consistem sobretudo, ao revés,
num desuso crescente, assim mental como social, sem que as questões agitadas hajam podido jamais dar
qualquer passo real, em virtude mesmo de sua radical insolubilidade. É fácil reconhecer que as
discussões ontológicas das escolas gregas se reproduziram essencialmente, sob outras formas, entre os
escolásticos da Idade Média, e encontramos hoje o equivalente delas entre os nossos psicólogos ou
ideólogos, pois nenhuma das doutrinas controvertidas pôde, durante estes vinte séculos de estéreis
debates, chegar a demonstrações decisivas, nem mesmo no que concerne à existência dos corpos
exteriores, ainda tão problemática para os argumentadores modernos como para os seus mais antigos
predecessores. Foi evidentemente o avanço contínuo dos conhecimentos positivos que inspirou, há dois
séculos, na célebre fórmula filosófica de Pascal, a primeira noção racional de progresso humano,
necessariamente estranha a toda a filosofia antiga. Estendida em seguida à evolução industrial e mesmo
estética, mas tendo ficado muito confusa em relação ao movimento social, ela tende hoje de modo vago
para uma sistematização decisiva, que só pode emanar do espírito positivo, enfim convenientemente

generalizado. Em suas especulações diárias ele reproduz espontaneamente seu ativo sentimento
elementar, representando sempre a extensão e o aperfeiçoamento de nossos conhecimentos reais como o
objetivo essencial de nossos diversos esforços teóricos. Sob um aspecto mais sistemático, a nova filosofia
aponta, diretamente, como destino necessário a toda nossa existência, a um tempo pessoal e social, o
melhoramento contínuo, não somente de nossa condição, mas também e sobretudo de nossa natureza,
tanto quanto o comporta, a todos os respeitos, o conjunto das leis reais exteriores e interiores. Erigindo,
assim, a noção de progresso em dogma verdadeiramente fundamental da sabedoria humana, quer prática,
quer teórica, ela lhe imprime o mais nobre e também o mais completo caráter, representando sempre o
segundo gênero de aperfeiçoamento como superior ao primeiro. Dependendo, com efeito, de um lado, a
ação da Humanidade sobre o mundo exterior especialmente das disposições do agente, a sua melhoria
deve constituir nosso principal recurso: sendo, por outro lado, os fenômenos humanos, individuais ou
coletivos, os mais modificáveis de todos, é em relação a eles que nossa intervenção racional comporta
naturalmente a mais alta eficácia. O dogma do progresso não pode, pois, tornar-se suficientemente
filosófico senão mediante uma exata apreciação geral do que constitui sobretudo esse melhoramento
contínuo de nossa própria natureza, principal objeto da progressão humana. Ora, a este respeito, o
conjunto da filosofia positiva demonstra plenamente, como se pode ver na obra indicada no começo deste
Discurso que tal aperfeiçoamento consiste essencialmente, assim para o indivíduo como para a espécie,
em fazer prevalecer cada vez mais os eminentes atributos que mais distinguem nossa humanidade da
simples animalidade, isto é, de uma parte a inteligência, de outra parte a sociabilidade, faculdades
naturalmente solidárias, que se servem mutuamente de meio e de fim. Embora o curso espontâneo da
evolução humana, pessoal ou social, desenvolva sempre sua comum influência, seu ascendente
combinado não poderia, entretanto, chegar ao ponto de impedir proceda habitualmente nossa principal
atividade dos instintos inferiores, que nossa constituição real torna, por força, muito mais enérgicos.
Assim esta ideal preponderância de nossa humanidade sobre nossa animalidade preenche naturalmente as
condições essenciais de um verdadeiro tipo filosófico, caracterizando determinado limite, do qual todos
os nossos esforços devem aproximar-nos constantemente sem, todavia, conseguirem jamais atingi-lo.
46. Esta dupla indicação da aptidão fundamental do espírito positivo para sistematizar espontaneamente
as sãs noções simultâneas de ordem e de progresso basta aqui para assinalar sumariamente a alta eficácia
social peculiar à nova filosofia. Seu valor, a este respeito, depende sobretudo de sua plena realidade
científica, isto é, da exata harmonia que estabelece sempre, tanto quanto possível, entre os princípios e os
fatos, não só em relação aos fenômenos sociais, como também a todos os outros. A reorganização
completa, única que pode terminar a grande crise moderna, consiste, com efeito, sob o aspecto mental,
que deve prevalecer em primeiro lugar, em constituir uma teoria sociológica própria para
convenientemente explicar o conjunto do passado humano: tal é o modo mais racional de pôr a questão
essencial, a fim de afastar dela mais facilmente qualquer paixão perturbadora. Ora, é assim que a
superioridade necessária da escola positiva sobre as diversas escolas atuais pode também ser mais
nitidamente apreciada. Sendo o espírito teológico e o metafísico levados, por sua natureza absoluta, a não
considerar senão o período do passado em que cada um deles dominou especialmente: o que precede e o
que se segue não oferece mais do que tenebrosa confusão e inexplicável desordem, cuja ligação com essa
estreita porção do grande espetáculo histórico não pode, aos seus olhos, resultar senão de milagrosa
interferência. Por exemplo, o catolicismo sempre mostrou, a respeito do politeísmo antigo, uma
tendência cegamente crítica, como a que ele hoje justamente increpa, em relação a si mesmo, ao espírito
revolucionário propriamente dito. Uma verdadeira explicação do conjunto do passado, de conformidade
com as leis constantes de nossa natureza, individual ou coletiva, é, pois, necessariamente impossível às
diversas escolas absolutas que ainda dominam, e, na realidade, nenhuma delas tentou dá-la de modo

satisfatório. Só o espírito positivo, em virtude de sua natureza eminentemente relativa, pode representar
de modo conveniente todas as grandes épocas históricas como outras tantas fases determinadas de uma
única evolução fundamental, onde cada uma resulta da precedente e prepara a seguinte segundo leis
invariáveis, que fixam sua participação especial na progressão comum, de modo a permitir sempre, sem
inconseqüência nem parcialidade, render exata justiça filosófica a quaisquer cooperações. Embora este
incontestável privilégio da positividade racional deva, a princípio, parecer puramente especulativo, os
verdadeiros pensadores nele reconhecerão logo a primeira fonte necessária do ativo ascendente social
reservado enfim à, nova filosofia. Podemos, na verdade, assegurar hoje que a doutrina que houver
suficientemente explicado o conjunto do passado obterá de modo inevitável, em virtude desta única
prova, a presidência mental do futuro.
CAPÍTULO II
SISTEMATIZAÇÃO DA MORAL HUMANA
47. Semelhante indicação das altas propriedades sociais que caracterizam o espírito positivo não seria
ainda assaz decisiva se lhe não ajuntássemos uma apreciação sumária de sua aptidão espontânea para
sistematizar enfim a moral humana, o que constituirá sempre a principal aplicação de toda verdadeira
teoria da Humanidade.
I. Evolução da moral positiva
48. No organismo político da antigüidade, a Moral, radicalmente subordinada à Política, não podia
jamais adquirir a dignidade nem a universalidade conveniente à sua natureza. Sua independência
fundamental e mesmo o seu ascendente normal resultaram enfim, tanto quanto era então possível, do
regime monotéico peculiar à Idade Média: este imenso serviço, devido sobretudo ao catolicismo,
constituirá sempre o seu principal título ao eterno reconhecimento do gênero humano. Foi somente
depois dessa indispensável separação, sancionada e completada pela divisão necessária dos dois poderes,
que a moral humana pôde realmente começar a tomar um caráter sistemático, estabelecendo, ao abrigo
dos impulsos passageiros, regras verdadeiramente gerais para o conjunto de nossa existência pessoal,
doméstica e social. Mas as profundas imperfeições da filosofia monoteica, que presidia então a essa
grande operação, alteraram muito a sua eficácia e comprometeram mesmo gravemente a sua estabilidade,
suscitando logo fatal conflito entre a expansão intelectual e o desenvolvimento moral. Assim ligada a
uma doutrina que não podia manter-se progressiva por muito tempo, a Moral devia em seguida ser cada
vez mais afetada pelo descrédito crescente que ia necessariamente sofrer uma teologia que, sendo daí por
diante retrógrada, se tornaria enfim radicalmente antipática à razão moderna. Exposta desde então à ação
dissolvente da Metafísica, a moral teórica recebeu, com efeito, durante os últimos cinco séculos, em cada
uma das suas três partes essenciais, ataques crescentemente perigosos, que a retidão e a moralidade
naturais do homem não puderam, pela prática, reparar sempre suficientemente, apesar do feliz
desenvolvimento contínuo que lhes devia proporcionar então a marcha espontânea da nossa civilização.
Se o ascendente necessário do espírito positivo não viesse enfim pôr termo a essas anárquicas
divagações, elas certamente imprimiriam uma flutuação mortal a todas as noções um pouco delicadas da
moral comum não somente social, mas também doméstica e até mesmo pessoal, não deixando subsistir
por toda parte senão as regras relativas aos casos mais grosseiros que a apreciação vulgar pudesse
diretamente garantir.
49. Em semelhante situação, deve parecer estranho que a única filosofia capaz efetivamente de
consolidar hoje a Moral se veja, ao revés, tachada, a este respeito, de incompetência radical, pelas

diversas escolas atuais desde os genuínos católicos até os simples deístas, que, no meio de seus vãos
debates, se põem de acordo especialmente para lhe interdizer essencialmente o acesso destas questões
fundamentais, pelo único motivo de que o seu gênio, demasiado parcial, se limitara até aqui aos assuntos
mais simples. O espírito metafísico que tendeu tantas vezes a dissolver a Moral, e o espírito teológico,
que, há muito, perdeu a força de preservá-la, persistem contudo em fazer dela uma espécie de apanágio
eterno e exclusivo, sem que a razão pública tenha ainda julgado convenientemente essas pretensões
empíricas. Cumpre, é verdade, reconhecer que, em geral, a introdução de qualquer regra moral devia
operar-se por toda a parte primeiramente sob as inspirações teológicas, então incorporadas
profundamente ao sistema inteiro de nossas idéias, inspirações que eram também as únicas suscetíveis de
constituir opiniões suficientemente comuns. Mas o conjunto do passado demonstra igualmente que esta
solidariedade primitiva decresceu sempre com o ascendente da Teologia; os preceitos morais, assim
como todos os outros, foram cada vez mais reduzidos a uma consagração puramente racional, à medida
que o vulgo se tornou mais capaz de apreciar a influência real de cada conduta sobre a existência
humana, individual ou social. Separando de modo irrevogável a Moral da Política o catolicismo devia
desenvolver em alto grau essa tendência continua, pois a intervenção sobrenatural se achou assim
diretamente reduzida a formar regras gerais, cuja aplicação particular ficava desde então confiada à
sabedoria humana. Dirigindo-se a populações mais adiantadas, ele entregou à razão pública uma série de
preceitos especiais que os sábios antigos acreditavam não poder dispensar nunca as injunções religiosas,
como o pensam ainda os doutores politeístas da Índia, por exemplo, quanto à maior parte das práticas
higiênicas. Podem-se também observar, decorridos mais de três séculos depois de São Paulo, as sinistras
predições de vários filósofos ou magistrados pagãos sobre a iminente imoralidade que a próxima
revolução teológica ia necessariamente acarretar. Tampouco as declamações atuais das diversas escolas
monoteicas impedirão o espírito positivo de completar hoje, sob condições convenientes, a conquista
prática e teórica do domínio moral, já entregue espontaneamente, e, cada vez mais, à razão humana, cujas
inspirações particulares só nos resta enfim sistematizar especialmente. A Humanidade não poderia, sem
dúvida, ficar indefinidamente condenada a não poder fundar suas regras de proceder senão sobre motivos
quiméricos, de maneira a eternizar uma desastrosa oposição, até aqui passageira, entre as necessidades
intelectuais e as morais.
II. Necessidade de tornar a Moral independente da Teologia e da Metafísica
50. A experiência demonstra que a assistência teológica, bem longe de ser eternamente indispensável aos
preceitos morais, lhes tem sido, ao revés, entre os modernos, cada vez mais prejudicial, fazendo-os
participar inevitavelmente, em virtude dessa funesta aderência, da decomposição crescente do regime
monotéico, sobretudo durante os três últimos séculos. Antes de mais nada, essa fatal solidariedade, à
medida que se extinguia a fé, devia diretamente enfraquecer a única base sobre a qual repousavam regras
que, amiúde expostas a graves conflitos com os nossos mais enérgicos impulsos, precisam ser
cuidadosamente preservadas de toda hesitação. A antipatia crescente que o espírito teológico justamente
inspirava à razão moderna, afetou de modo grave importantíssimas noções morais, não só relativas às
grandes relações sociais, mas ainda atinentes à simples vida doméstica e mesmo à existência pessoal.
Além disto um cego ardor de emancipação mental arrastou, de modo excessivo, a erigir algumas vezes o
desdém passageiro por essas máximas salutares em uma espécie de louco protesto contra a filosofia
retrógrada, de onde pareciam exclusivamente emanar. Até entre aqueles que conservavam a fé
dogmática, essa funesta influência se fazia sentir indiretamente, porque a autoridade sacerdotal, depois de
haver perdido sua independência política, via também decrescer cada vez mais o ascendente social
indispensável à sua eficácia moral. Além desta impotência crescente para proteger as regras morais, o

espírito teológico muitas vezes as prejudicou, de modo ativo, pelas divagações que suscitou, desde que
não foi mais suscetível de suficiente disciplina, sob o inevitável surto do livre exame individual.
Exercido assim, ele, na realidade, inspirou ou secundou muitas aberrações anti-sociais, que o bom senso,
entregue a si mesmo, teria espontaneamente evitado ou rejeitado. As utopias subversivas que vemos
ganhar crédito hoje, quer contra a propriedade, quer mesmo acerca da família, etc., não emanaram quase
nunca das inteligências plenamente emancipadas, nem foram por elas acolhidas, apesar das suas lacunas
fundamentais, mas antes, por certo, o foram pelas que buscam ativamente uma espécie de restauração
teológica, fundada sobre vago e estéril deísmo ou sobre um protestantismo equivalente. Enfim, essa
antiga aderência à Teologia tornou-se também necessariamente funesta à Moral, sob um terceiro aspecto
geral, opondo-se à sua sólida reconstrução sobre bases puramente humanas. Se este obstáculo consistisse
só nas cegas declamações mui freqüentemente emanadas das diversas escolas atuais, teológicas ou
metafísicas, contra o pretenso perigo de semelhante operação, os filósofos positivos poderiam limitar-se
a repelir odiosas insinuações pelo irrecusável exemplo da sua própria vida diária, pessoal, doméstica e
social. Mas esta oposição é infelizmente muito mais radical, porque resulta da irredutível
incompatibilidade necessária que evidentemente existe entre estas duas maneiras de sistematizar a Moral.
Devendo os motivos teológicos oferecer naturalmente, aos olhos do crente, uma intensidade muito
superior à de quaisquer outros, jamais poderiam transformar-se em simples auxiliares dos motivos
puramente humanos e não podem conservar nenhuma eficácia real logo que deixam de dominar. Não
existe, pois, nenhuma alternativa duradoura entre fundar enfim a moral no conhecimento positivo da
Humanidade e deixá-la repousar na determinação sobrenatural: as convicções racionais puderam
secundar as crenças teológicas, ou antes tomar gradualmente o seu lugar à medida que a fé se extinguiu;
mas a combinação inversa não constitui certamente senão uma utopia contraditória, na qual o principal
seria subordinado ao acessório.
51. Judiciosa observação do verdadeiro estado da sociedade moderna representa, pois, como cada vez
mais desmentida pelo conjunto dos fatos diários, a pretensa impossibilidade de ser dispensável de ora em
diante qualquer teologia para consolidar a Moral; porque essa perigosa ligação devia tornar-se desde o
fim da Idade Média triplicentemente funesta à Moral, quer enervando ou desacreditando suas bases
intelectuais, quer lhe suscitando perturbações diretas, quer impedindo sua melhor sistematização. Se,
apesar de ativos princípios de desordem, a moralidade prática realmente melhorou, este feliz resultado
não poderia ser atribuído ao espírito teológico, então degenerado, pelo contrário, em perigoso
dissolvente: ele é devido, no mais alto grau, à ação do espírito positivo, já eficaz sob sua forma
espontânea, que consiste no bom senso universal, cujas sábias inspirações secundaram o impulso natural
de nossa civilização progressiva para combater utilmente as diversas aberrações, sobretudo as que
emanavam das divagações religiosas. Quando, por exemplo, a teologia protestante tendia a alterar
gravemente a instituição do casamento, pela consagração formal do divórcio, a razão pública
neutralizava consideravelmente os seus funestos efeitos, impondo quase sempre o respeito prático dos
costumes anteriores, únicos conformes ao verdadeiro caráter da sociabilidade moderna. Irrecusáveis
experiências provaram, a1ém disso, ao mesmo tempo, em vasta escala, no seio das massas populares, que
o pretenso privilégio exclusivo das crenças religiosas de determinar grandes sacrifícios ou ativos
devotamentos podia, de igual modo, pertencer a opiniões diretamente opostas, e aplicava-se, em geral, a
toda convicção profunda, qualquer que seja a sua natureza. Os numerosos adversários do regime
teológico que, há meio século, garantiram com tanto heroísmo nossa independência nacional contra a
coligação retrógrada, não mostraram, sem dúvida, uma abnegação menos completa e menos constante do
que os bandos supersticiosos que, no seio da França, auxiliaram a agressão exterior.

52. Para acabar de apreciar as atuais pretensões da filosofia teológico-metafísica de conservar a
sistematização exclusiva da moral comum, basta encarar diretamente a doutrina perigosa e contraditória
que o progresso inevitável da emancipação a forçou logo a estabelecer a esse respeito, consagrando por
toda a parte, sob formas mais ou menos explícitas, uma espécie de hipocrisia coletiva, análoga à que se
supõe, muito sem razão, ter sido habitual entre os antigos, embora ela só tenha comportado na
antigüidade um êxito precário e passageiro. Não podendo impedir o livre desenvolvimento da razão
moderna nos espíritos cultos, procurou-se, assim, obter deles, em vista do interesse público, o respeito
aparente das antigas crenças, para que estas mantivessem, sobre o vulgo, a autoridade julgada
indispensável. Esta transação sistemática não é por forma alguma peculiar aos jesuítas, ainda que
constitua o fundo essencial de sua tática. O espírito protestante imprimiu-lhe também, a seu modo, uma
consagração ainda mais intima, mais extensa e sobretudo mais dogmática; os metafísicos propriamente
ditos adotam-na tanto quanto os próprios teólogos; o maior dentre eles , embora sua alta moralidade fosse
na verdade digna de sua eminente inteligência, foi arrastado a sancioná-la essencialmente, estabelecendo,
de uma parte, que as opiniões teológicas não comportam nenhuma verdadeira demonstração, e, de outra
parte, que a necessidade social obriga a indefinidamente manter-lhes o império. Apesar de poder
semelhante doutrina tornar-se respeitável entre aqueles que lhe não acrescentam nenhuma ambição
pessoal, não tende menos a viciar todas as fontes da moralidade humana, fazendo-a necessariamente
repousar sobre um estado contínuo de falsidade, e mesmo de desprezo, dos superiores para com os
inferiores. Enquanto os que deviam participar dessa dissimulação sistemática foram pouco numerosos, a
sua prática foi possível, ainda que precária; mas tornou-se ainda mais ridícula do que odiosa quando a
emancipação se estendeu bastante para que essa espécie de conspiração piedosa pudesse hoje abranger,
como seria necessário, a maior parte dos espíritos ativos. Enfim, mesmo que se suponha realizada essa
quimérica extensão, esse pretenso sistema deixa subsistir completamente a dificu1dade a respeito das
inteligências emancipadas cuja moralidade própria fica assim abandonada à sua pura espontaneidade,. já
exatamente reconhecida insuficiente na classe submissa. Se é preciso admitir também a necessidade de
verdadeira sistematização moral para esses espíritos emancipados, ela só poderá repousar desde então
sobre bases positivas, que finalmente serão assim julgadas indispensáveis. Quando a limitar-lhe o destino
à classe ilustrada, além de semelhante restrição não poder mudar a natureza dessa grande construção
filosófica seria evidentemente ilusória numa época em que a cultura mental, que essa fácil libertação
supõe, já se tornou muito comum, ou antes quase universal, pelo menos em França. Assim, o expediente
empírico sugerido pelo vão desejo de manter, a todo custo, o antigo regime intelectual, só terá como
resultado deixar a maior parte dos espíritos ativos desprovida de toda doutrina moral, como mui
freqüentemente acontece hoje.
III. Necessidade de um poder espiritual positivo
53. É, portanto, sobretudo em nome da Moral que cumpre de ora avante trabalhar ardentemente para
constituir enfim o ascendente universal do espírito positivo, a fim de substituir um sistema decaído que,
ora impotente, ora perturbador, exigiria cada vez mais a compressão mental como condição permanente
da ordem moral. Só a nova filosofia pode estabelecer hoje, quanto aos nossos deveres, convicções
profundas e ativas, verdadeiramente suscetíveis de sustentar com energia o choque das paixões. De
acordo com a teoria positiva da Humanidade, irrecusáveis demonstrações, apoiadas sobre a imensa
experiência que agora a nossa espécie possui, determinarão exatamente a influência real, direta ou
indireta, privada e pública, peculiar a todo ato, a todo hábito e a todo pendor ou sentimento; donde
naturalmente resultarão, como outros tantos corolários inevitáveis, as regras de proceder, quer gerais,
quer especiais, mais conformes à ordem universal e que, por conseguinte, deverão ser ordinariamente

mais favoráveis à felicidade individual. Apesar da dificuldade deste grande assunto, ouso assegurar que,
convenientemente tratado, comporta conclusões tão certas quanto as da própria Geometria. Não se pode,
sem dúvida, esperar jamais tornar algum dia suficientemente acessíveis a todas as inteligências estas
provas positivas de várias regras morais destinadas, entretanto, à vida comum; mas isso já acontece com
as diversas prescrições matemáticas que, todavia, são aplicadas sem hesitação nas mais graves ocasiões,
quando, por exemplo, nossos marinheiros arriscam diariamente sua existência, fiados em teorias
astronômicas que absolutamente não conhecem. Por que igual confiança não seria concedida também a
noções ainda mais importantes? É incontestável que a eficácia normal de semelhante regime exige, em
cada caso, além de poderoso impulso resultante naturalmente dos preconceitos públicos, a intervenção
sistemática, ora passiva, ora ativa, de uma autoridade espiritual, destinada a lembrar, com energia, as
máximas fundamentais e a dirigir-lhes criteriosamente a aplicação, como expliquei de modo especial na
obra já mencionada. Desempenhando, assim, a grande função social que o catolicismo não preenche
mais, este novo poder moral cuidadosamente utilizará a feliz aptidão da filosofia correspondente para
incorporar em si espontaneamente a sabedoria real dos diversos regimes anteriores, segundo a tendência
ordinária do espírito positivo em relação a qualquer assunto. Quando a astronomia moderna afastou de
modo irrevogável os princípios astrológicos, não deixou, contudo, de conservar preciosamente todas as
noções verdadeiras obtidas sob o domínio desses princípios; o mesmo se deu com a Química em reação à
alquimia.
CAPÍTULO III
SURTO DO SENTIMENTO SOCIAL
54. Sem poder empreender aqui a apreciação moral da filosofia positiva, cumpre, entretanto, assinalar a
tendência contínua que, de modo direto, resulta de sua própria constituição, tanto científica como lógica,
para estimular e consolidar o sentimento do dever, desenvolvendo sempre o espírito de conjunto que a
ele se acha naturalmente ligado. Este novo regime mental dissipa espontaneamente a fatal oposição que,
desde o fim da Idade Média, existe cada vez mais entre as necessidades intelectuais e as necessidades
morais. De ora em diante, ao contrário, todas as especulações reais, convenientemente sistematizadas,
concorrerão de modo contínuo para constituir, tanto quanto possível, a universal preponderância da
Moral, pois o ponto de vista social há de tornar-se nelas necessariamente o laço científico e o regulador
lógico de todos os outros aspectos positivos. É impossível que desenvolvendo familiarmente semelhante
coordenação as idéias de ordem e harmonia, sempre ligadas à Humanidade, não tenda a moralizar
profundamente, não só os espíritos de escol, como também a massa das inteligências, que deverão todas
participar mais ou menos desta grande iniciação, por via de um sistema conveniente de educação
universal.
1o. – O antigo regime moral é individual
55. Uma apreciação mais íntima e mais extensa, ao mesmo tempo prática e teórica, representa o espírito
positivo como sendo, por sua natureza, o único suscetível de desenvolver diretamente o sentimento
social, primeira base necessária de toda sã moral. O antigo regime mental não podia estimulá-la senão
com o auxílio de penosos sacrifícios indiretos, cujo êxito real devia ser muito imperfeito, em vista da
tendência essencialmente pessoal de semelhante filosofia, quando a sabedoria do sacerdócio não lhe
neutralizava a influência espontânea. Esta necessidade é agora reconhecida, pelo menos empiricamente,
quanto ao espírito metafísico propriamente dito, que não pôde nunca conduzir, em Moral, a nenhuma
outra teoria efetiva a não ser o desastroso sistema de egoísmo, tão usado hoje, apesar de muitas

declamações contrárias; mesmo as seitas ontológicas que protestaram seriamente contra semelhante
aberração não a substituíram senão por vagas ou incoerentes noções, incapazes de eficácia prática. Uma
tendência tão deplorável, e, contudo, tão constante, deve ter raízes mais profundas do que comumente se
supõe. Ela resulta, com efeito, sobretudo da natureza necessariamente pessoal de semelhante filosofia
que, limitada sempre à consideração do indivíduo, na realidade nunca pôde abranger o estudo da espécie,
por uma conseqüência inevitável de seu vão princípio lógico, reduzido, em essência, à intuição
propriamente dita, que não comporta evidentemente nenhuma aplicação coletiva. Suas fórmulas
ordinárias apenas ingenuamente lhe traduzem o espírito fundamental; para cada um dos seus adeptos o
pensamento dominante é sempre o do eu: quaisquer outras existências, mesmo humanas, são
confusamente envolvidas em uma única concepção negativa e seu vago conjunto constitui o não-eu; a
noção de nós não poderia achar aí nenhum lugar direto e distinto. Mas, examinando este assunto ainda
mais profundamente, cumpre reconhecer que, a este respeito, como sob qualquer outro aspecto, a
Metafísica deriva, tanto dogmática, como historicamente, da própria Teologia, da qual não podia jamais
constituir senão uma modificação dissolvente. Com efeito, este caráter de personalidade constante
pertence sobretudo, com uma energia mais direta, ao pensamento teológico, sempre preocupado, em cada
crente, com interesses essencialmente individuais, cuja imensa preponderância absorve por força
qualquer outra consideração, sem que o mais sublime devotamento lhe possa inspirar a verdadeira
abnegação justamente considerada então como perigosa aberração. Somente a oposição freqüente desses
interesses quiméricos aos reais forneceu à sabedoria do sacerdócio poderoso meio de disciplina moral,
que pôde, amiúde, impor, em proveito da sociedade, admiráveis sacrifícios, que, entretanto, só o eram em
aparência, pois sempre se reduziam a prudente ponderação de interesses. Os sentimentos benévolos e
desinteressados, peculiares à natureza humana, deveram, sem dúvida, manifestar-se através de tal regime,
e mesmo, a certos respeitos, sob o seu impulso indireto; mas, embora a expansão desses sentimentos não
tenha podido ser assim comprimida, deve seu caráter ter dele recebido grave alteração, que
provavelmente ainda não nos permite conhecer-lhe plenamente a natureza e a intensidade, por falta de
exercício próprio e direto. Há toda razão de presumir-se, aliás, que esse hábito contínuo de cálculos
pessoais em relação aos mais caros interesses do crente desenvolveu no homem, mesmo a outros
respeitos, por via de afinidade gradual, um excesso de circunspecção, de previdência, e, finalmente, de
egoísmo, que sua organização fundamental não exigia, e por isto poderá um dia diminuir sob melhor
regime moral. Seja ou não verdadeira esta conjetura, é incontestável ser o pensamento teológico, por sua
natureza, essencialmente individual, e jamais diretamente coletivo. Aos olhos da fé teológica, sobretudo
monoteica, a vida social não existe por falta de um destino que lhe seja próprio. A sociedade humana não
pode então imediatamente oferecer senão uma simples aglomeração de indivíduos, cuja reunião é quase
tão fortuita quanto passageira, cada um dos quais, ocupado com a sua própria salvação, não concebe
participar na de outrem, a não ser como poderoso meio de merecer mais a sua, obedecendo às prescrições
supremas que lhe impuseram tal dever. Merecerá sempre nossa respeitosa admiração a prudência
sacerdotal que, sob o feliz impulso do instinto público, soube tirar, durante muito tempo, grande utilidade
prática de uma filosofia tão imperfeita. Mas este justo reconhecimento não pode ir até o ponto de
prolongar artificialmente o regime inicial além do seu destino provisório, quando chegou enfim a época
de uma economia mais conforme com o conjunto de nossa natureza intelectual e afetiva.
2o. – O Espírito positivo é diretamente social
56. O espírito positivo, ao contrário, é diretamente social, tanto quanto possível e sem nenhum esforço,
em virtude mesmo da sua realidade característica. Para ele o homem propriamente dito não existe, só
pode existir a Humanidade, pois todo nosso desenvolvimento é devido à sociedade, sob qualquer aspecto

que o encaremos. Se a idéia de sociedade parece ainda uma abstração de nossa inteligência, é sobretudo
em virtude do antigo regime filosófico; porque, a dizer verdade, é à idéia de indivíduo que pertence
semelhante caráter, pelo menos em nossa espécie. O conjunto da nova filosofia tenderá sempre a fazer
sobressair, tanto na vida ativa como na especulativa, a ligação de cada um a todos, sob uma série de
aspectos diversos, de modo a tornar involuntariamente familiar o sentimento íntimo da solidariedade
social, convenientemente estendida a todos os tempos e a todos os lugares. Não somente a ativa
preocupação do bem público será sempre representada como a maneira mais conveniente de assegurar a
felicidade privada; mas, por uma influência, ao mesmo tempo mais direta e mais pura, enfim mais eficaz,
o exercício tão completo quanto possível dos pendores generosos se tornará a principal fonte da
felicidade pessoal, mesmo quando não deva excepcionalmente proporcionar outra recompensa além de
inevitável satisfação interior. Se, realmente, como não se poderia duvidar, a felicidade resulta sempre de
criteriosa atividade, deve ela depender principalmente dos instintos simpáticos, embora nossa
organização lhes não conceda ordinariamente preponderante energia. É claro que os sentimentos
benévolos são os únicos que podem desenvolver-se com inteira liberdade no estado social que,
abrindo-lhes um campo indefinido, os estimula cada vez mais, ao passo que exige necessariamente certa
compressão permanente dos impulsos pessoais, cujo surto espontâneo suscitaria conflitos contínuos.
Nesta vasta expansão social, todos encontrarão a satisfação normal do desejo de se eternizar, que não
podia antes ser satisfeito senão com o auxílio de ilusões de ora avante incompatíveis com a nossa
evolução mental. Não podendo mais prolongar-se senão pela espécie, o indivíduo será, assim, arrastado a
incorporar-se nela o mais completamente possível, ligando-se profundamente a toda a sua existência
coletiva, não só atual, mas também passada, e sobretudo futura, de modo a obter toda a intensidade de
vida que comporta, em cada caso, o conjunto das leis reais. Esta grande identificação poderá tornar-se
tanto mais íntima e mais bem sentida quanto a nova filosofia designa necessariamente para as duas sortes
de vida um mesmo destino fundamental e uma única lei de evolução, que consiste sempre, seja para o
indivíduo, seja para a espécie, na progressão contínua, cujo fim principal foi acima caracterizado, isto é,
a tendência a fazer prevalecer, de um e de outro lado, tanto quanto possível, o atributo humano, ou a
combinação da inteligência com a sociabilidade, sobre a animalidade propriamente dita. Não sendo
desenvolvíveis quaisquer de nossos sentimentos a não ser por um exercício direto e prolongado, tanto
mais indispensável quanto são menos enérgicos no princípio, seria supérfluo insistir mais aqui junto de
quem quer que possua, mesmo empiricamente, verdadeiro conhecimento do homem, para demonstrar a
superioridade necessária do espírito positivo sobre o antigo espírito teológico-metafísico, quanto ao
desenvolvimento próprio e ativo do instinto social. Esta preeminência é de uma natureza por tal forma
sensível que, sem dúvida, a razão pública as reconhecerá suficientemente, muito tempo antes de terem as
instituições correspondentes podido tornar efetivas, como convém, suas felizes propriedades.

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